domingo, 21 de junho de 2009

Como efectuar um trabalho escrito



Como efectuar um trabalho

A realização de um trabalho escrito deve obedecer a determinadas normas e a um processo que permita a sua efectivação de forma equilibrada e fundamentada.
1º Passo: Analisando os domínios de referência, e em função dos gostos ou experiências pessoais, deve-se escolher um tema tendo em atenção, desde logo, à sua viabilidade.
2º Passo: Escolhido o tema, deve-se proceder a uma pesquisa de materiais que permitam o seu desenvolvimento, quer recorrendo à internet, a enciclopédias, a outras obras ou textos publicados, quer a filmes ou outros programas em formato de vídeo. Após este passo, duas coisas podem acontecer, ou encontramos os materiais necessários e adequados e prosseguimos o trabalho ou, não os encontrando, regressamos ao ponto anterior.
3º Passo: Como organizar o trabalho. Qualquer trabalho deve ser organizado em função de uma lógica que contemple três grandes etapas:
· A introdução – Deve funcionar como uma apresentação do que se deseja fazer e quais os motivos que nos levaram a optar pelo tema.
· O desenvolvimento – Representa o corpo do trabalho, devendo ter tantos capítulos quantos as partes distintas que o constituam. Deve-se atender ao particular cuidado de ser o mais rigoroso e objectivo possível, apresentando o tema em consonância com o destaque escolhido. É nesta parte que se explica a investigação efectuada, a informação recolhida e a nossa postura perante o tema em causa.
· A conclusão é a parte final do trabalho onde se apresentam os resultados obtidos e as eventuais propostas que tenham sido levantadas na introdução. É o momento do balanço final e nela podemos colocar as dificuldades sentidas, os problemas resolvidos e o que contribuíram para o nosso conhecimento.
Finalmente, seguem-se duas partes, por assim dizer, marginais, mas nem por isso menos importantes: os anexos e a bibliografia. Nos anexos colocam-se todos os documentos que considerarmos importantes para ajudar à compreensão do trabalho, como fotografias, entrevistas, relatórios, etc. A bibliografia é o espaço onde iremos colocar todas as obras consultadas, quaisquer que tenham sido e deve ser organizada de forma lógica, padronizada e esclarecedora.

Como citar um texto, inserir notas e fazer uma bibliografia.

Introdução
Esta é uma matéria que diverge bastante consoante os autores ou as escolas e está longe de ser consensual, pelo que esta é apenas uma proposta ou modelo geral a aplicar na redacção de um trabalho escrito, qualquer que seja a sua natureza. Nesta medida, é conveniente na introdução ou numa nota explicar claramente como se vai proceder, isto é, qual a metodologia utilizada e depois cumprir rigorosamente essa metodologia. Antes de mais, convém esclarecer para que servem estes complementos na funcionalidade de um trabalho. No que respeita às citações, servem em primeiro lugar para identificar, o mais rigorosamente possível, a origem de determinadas frases que julgamos convenientes reproduzir de uma forma literal no nosso trabalho, respeitando a sua autoria e salvaguardando-nos de qualquer acusação de plágio. No fundo, como diz o adágio, é dar o seu a seu dono, não nos apropriando do que pertence originalmente a terceiros. A inserção de notas é sempre boa prática quer para identificar citações, para acrescentar dados tidos por convenientes ou interessantes, dar nota de polémicas ou desacordos, numa palavra: tudo o que esteja relacionado com o texto mas não deva fazer parte dele, sob pena de se estar continuamente a quebrar o fio condutor do texto. Finalmente, a bibliografia é todo o conjunto de obras (sejam de que natureza forem) que nos tenham servido para a elaboração de um trabalho.
Como citar um texto
A forma que considero mais correcta é a sua colocação entre aspas, seguida de uma nota que deve identificar claramente o seu autor e proveniência. Por exemplo: em Cervantes já podemos encontrar uma crítica severa e precoce à sociedade do seu tempo, nomeadamente à distinção de classes que apenas a Revolução Francesa viria a consagrar, pois essa separação é como no “jogo de Xadrez. Enquanto dura a partida, cada pedra desempenha o seu papel especial; acabou-se: baralham-se, misturam-se, confundem-se cavalos, bispos, reis, peões, e todos vão de cambulhada para o fundo das bolsas, como a gente para dentro das campas.”[1] Analisemos: o nome por que é conhecido o autor, entre parêntesis pode vir o nome completo; o título em itálico com os substantivos em maiúsculas (se divergir do original este também deve ser colocado), o local de edição, a editora, número de edição (se não houver parte-se do princípio que se trata da primeira), o ano, o autor da tradução e do prefácio (apenas é importante se se tratar de uma obra muito traduzida ou o tradutor for relevante), o número de páginas, a abreviatura il. (significando que se tratam de páginas ilustradas e o número da página de onde foi retirada a citação. Salvo indicação em contrário, o texto deve ser em letra de corpo 12, com espaço e meio de intervalo e as notas em letra de corpo 10, com apenas um espaço. Tratando-se de um artigo, numa qualquer publicação, a diferença será que a seguir ao nome do autor, o título desse artigo deve vir entre aspas, seguido de in (em itálico) o nome da publicação em itálico e deve conter as páginas que o artigo ocupa, bem como a referência bibliográfica da publicação. Exemplo.[2] Pode ainda acontecer que determinada citação seja retirada da obra de outro autor, então usar-se-á o mesmo critério do exemplo anterior só que em vez de in se colocará apud, (em itálico) que significa como se lê em. Exemplo: “sou um criminoso político, meu amigo”[3] Os mesmos procedimentos devem ser usados quando se citam artigos de jornais ou revistas, nesta fase ainda indiferenciados.
Se houver uma segunda citação da mesma obra, obviamente, a referência não deve ser tão completa, sem contudo, e volto a frisar em minha opinião, não se dever recorrer às abreviaturas mais comuns como: idem,ibidem, Op.Cit., etc; pois, ao fim de algumas páginas tornam-se muito difíceis de compreender, em seu lugar sugiro uma referência abreviada, por exemplo: Miguel Cervantes, D. Quixote, p. 356, ou Maria Helena da Rocha Pereira, “Vírgilio, Poeta da Paz…”, p.75.

Como inserir notas
As notas, como explicámos atrás, servem para toda e qualquer situação em que não se queira quebrar o raciocínio que o texto vem seguindo, se nos merece um aparte, uma dúvida ou queremos clarificar melhor um ponto. Por exemplo: Nietzsche dizia que “a mentira mais frequente é a que cada qual diz a si próprio”[4], como o texto revela algumas dificuldades de tradução é introduzida esta nota em que se situa melhor o contexto da frase, inserindo a abreviatura Cf. (que significa confronte-se com) para remeter para outra tradução que é ligeiramente diferente. Noutro caso, “António Sérgio ao aceitar que “o passado valeu pelo que negou, assume uma concepção dialéctica da história quase hegeliana,[5] bem como da própria sociedade que a produz.” Para finalizar com o exemplo de uma nota de esclarecimento veja-se: “A morte de Vittorini, no ano subsequente, é um tremendo choque para Italo Calvino. Aos 43 anos, fá-lo tomar consciência de que a morte do amigo acarretara a perda da sua juventude e o começo de uma nova era. Parte para Paris onde vive com intensidade o Maio de 68 francês e integra-se no meio académico e nos círculos parisienses (como o Oulipo) [6] e conhece, entre outros, Claude Levy-Strauss, Roland Barthes e Raymond Queneau.”

Como fazer uma bibliografia.
Uma bibliografia serve, assim como as notas também já serviam, não só para legitimar as nossas ideias, no duplo sentido que já empregamos, que é o de que nem inventámos as fontes ou os autores nem queremos espoliá-los da sua autoria, como para fornecer pistas e elementos bibliográficos para quem deseje estudar determinado assunto. É, pois, fundamental que esteja bem estruturada e seja de fácil consulta. Das várias formas possíveis de o fazer escolhemos a mais simples e, para nós, a mais correcta.
Fontes (obras escritas pelos autores ou contemporâneos sobre determinado assunto) que podem ser: manuscritas, impressas em livros ou em periódicos. Aqui devemos seleccionar os diversos itens que existirem, por exemplo: Epistolário, jornais periódicos, panfletos, livros, participações em livros de outros autores, prefácios, etc.
Outras fontes (eventualmente relacionadas com o autor ou assunto).
Bibliografia complementar
1- Obras de referência, 2- Obras de carácter geral
Estudos: 1- Sobre o período do assunto, 2- Estudos sobre a questão no seu contexto geral, 3- Estudos sobre o autor ou o tema, etc.
Outros estudos
Sites consultados na Internet. Hoje muito em voga devem conter, se existente, o nome do autor, o número de página, o endereço electrónico e, muito importante, a data em que foram consultados, dada a mobilidade dos conteúdos existentes na Web.
Alguns exemplos:
· BRAGA da CRUZ, Manuel, Monárquicos e Republicanos no Estado Novo, Lisboa, Publicações Dom Quixote, Março de 1986, 227 pp.
· SERRÃO, Joel, “ António Sérgio, o Educador”, in O Tempo e o Modo. Revista de pensamento e Acção, Lisboa, Director João Bénard da Costa, Nºs 69 – 70, Março/Abril de 1969, pp. 242 – 249.

Como verificamos, na bibliografia os apelidos antecedem os nomes próprios por uma questão de maior facilidade em encontrar os autores, no entanto o apelido deve ser aquele pelo qual um autor é conhecido, por exemplo se citarmos:
· SOUSA, António Sérgio de “Sobre a minha colaboração na Obra da ‘Renascença Portuguesa’”, in Revista Portucale, Porto, Direcção de Joaquim Moreira, 3ª série, vol.1º, nº 3, 1955, pp. 115-124.
ninguém reparará que se trata de António Sérgio, um conhecido pensador português que sempre assinou com esse nome ou se colocarmos
· PECCI, Joaquim, Carta encíclica RERUM NOVARUM (sobre a Condição dos Operários), extraída, em 27 de Junho de 2005, de: http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documents/hf_lxiii_enc_15051891_rerum-novarum_po.html
dificilmente se descobrirá que se trata do Papa LEÃO XIII…
Para concluir, resta-nos dizer que dentro de cada ponto ou sub-ponto da bibliografia não se devem ordenar os autores por ordem alfabética, mas sim pela entrada da publicação mais antiga para a mais recente, tal ordenação alfabética só deve acontecer se os autores forem em número muito elevado e num ponto colocado à parte onde se referirá que é esse o critério. Ainda e sempre a não esquecer é que o critério de citações, notas e bibliografia deve ser uniforme.


[1] Miguel de Cervantes (Saavedra), D. Quixote de La Mancha, Lisboa, Bertrand Editora, 2ªed., 2002, (tradução e prefácio de Aquilino Ribeiro), 846 pp. il, p. 471.

[2] Maria Helena da Rocha Pereira, “Vírgilio, Poeta da Paz e da Missão em Roma” in Estudos em Homenagem a Jorge Borges de Macedo, Lisboa, I.N.I.C., Setembro de 1992, 622 pp., pp. 73-85.

[3] Manuel de Arriaga apud João Medina, “Manuel de Arriaga, o ‘Rei Lear da República’”, in O Tempo de Manuel de Arriaga, Lisboa, C.H.U.L., Setembro 2004, 350 pp.,il., pp.65-74,p.73.

[4] Nietzsche escreveu que “a mentira mais frequente é a que cada qual diz a si próprio; mentir aos outros é um caso relativamente excepcional.” Friedrich Nietzsche, O Anticristo, [Redigido em 1888, 1ª edição 1895. Versão corrigida, anotada e prefaciada por Pedro Delfim Pinto dos Santos], Lisboa, Guimarães Editores, 10ª edição, 2000, 134 pp., • LV, p.107. Cf. tradução de Artur Morão, Lisboa, Edições 70, Maio de 2002, 109 pp., p. 86.

[5] Retiramos aqui qualquer aproximação historicista ou de cariz teleológico e empregamos a terminologia que Karl Marx virá a empregar, mas que Hegel nunca emprega para falar de dialéctica. Esta concepção é empregue por Hegel, na Fenomenologia do Espírito, e desenvolve-se na correlação dos conceitos consciência/conteúdo da experiência, em torno do conceito chave de Aufhebung, (superação, no sentido de algo que suprime e mantém) e do conceito de Gewordensein (ser-que-se-tornou, ou devir). Cf. Michel Renaud, “Hegel” e “Hegelianismo” in Logos, Enciclopédia luso-brasileira de Filosofia, 5 vol., Lisboa – S.Paulo, Abril de 1992, vol. II, pp. 1026-1046 e 1046-1055.

[6] Ouvroir de Littérature Potentielle, grupo de intelectuais criado em 1960 por Raymond Queneau e Francois Le Lionnais cujos membros permanecem com o estatuto de membros mesmo após a morte, pelo que Italo Calvino ainda hoje o é, e que permanece, actualmente, em actividade. Site oficial: http://www.oulipo.net/.

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